quarta-feira, 25 de abril de 2012

4º encontro da Vivência


Neste último domingo tivemos mais um encontro da Vivência Gandaiá 2012. O tempo passa rápido, já se foram 4 domingos desde o começo da Vivência, lá no comecinho de abril. Nesse tempo pudemos ter uma introdução básica na preparação cênica cuidadosa que o palhaço tem que ter para ser, de fato, palhaço. Pudemos brincar (muito seriamente) em diversos exercícios e jogos, sempre levando em consideração o conhecimento do próprio corpo, da própria mente, enfim, de si mesmo. Se tornar palhaço é ir se descobrindo, no sentido mais básico que esse pode ter: tirar as cobertas! Aos poucos vamos nos tornando pelados (não é o clown o mais nu dos artistas?) e ai, quem sabe, pode aparecer um ser risível, ridículo por natureza.

Neste 4º encontro nos dedicamos a percepção: do eu, do outro e do espaço. Andamos, corremos, pulamos, enfim, agimos e reagimos em três (ou mais) dimensões. Foi um momento inicial de ver e ouvir, pra depois, quem sabe, ser visto e ouvido. Os exercícios buscaram, através de uma relação íntima com o outro e com o espaço, aumentar a capacidade de percepção sonora, visual, tátil e intuitiva. Ampliando o olhar ficamos mais receptivos, ficamos em estado de total prontidão. O mundo está sempre em movimento e muitas coisas estão acontecendo. Mesmo num lugar e momento em que tudo parece estático, coisas sutis acontecem, há movimento. A vida pulsante se faz presente e se mantém através desse movimento constante. Estarmos atentos a isso nos possibilita uma (re)conexão com o mundo e nos abre a possibilidade para a ação consciente, essencial e transformadora. Ao palhaço essa atenção/percepção também é fundamental. É dentro desse estado de consciência que surgem as ações autênticas que todo palhaço (verdadeiro) almeja. É uma busca simples e necessária que exige abertura e dedicação.

Acredito que estamos no caminho. Que dizer, estamos em um caminho, dos vários e vários que existem (sem contar os que podem ser abertos). Está chegando a hora dos aspirantes a palhaço colocarem pela primeira vez (pelo menos na Vivência) o místico e mítico nariz vermelho. Tenho certeza que será um momento único, assim como ainda deve ser para um velho palhaço que coloca seu nariz depois de 30 ou 40 anos. Mais uma vez agradeço a todos que estão presentes e participam de alguma forma dessa caminhada do Gandaiá, principalmente aos possíveis novos gandaieiros que todo domingo de manhã tem estado (firmes, fortes e com sono) nos encontros dessa Vivência. Obrigado e aaaaaaaaah, vamo nessa! 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

3º encontro da Vivência


Em mais um domingo ensolarado de Indaiatuba aconteceu o 3º encontro da Vivência Gandaiá 2012. As 8 horas da manhã o sol já estava quente, muito quente. Nos abrigamos no aconchego da sombra do CIASPE para começarmos com um alongamento leve, tranquilo, aonde o mais importante é o respirar. Era dia de usar os músculos, muitas vezes esquecidos, da nossa face e também de soltar a voz, o verbo, provérbio, substantivo, adjetivo, e seja lá mais o que fosse.

Foi uma manhã repleta de caras feias e bonitas, tristes e alegres, comuns e estranhas. Cheia de palavras bonitas, lembranças bobas, interjeições de dor e amor. Conseguimos mais peças para nosso quebra cabeça e já estou ansioso para chegar a hora de monta-lo! Pra fechar fico um trecho de um dos textos lidos, que expressa muito bem a vivência: "Foi quando o véu se abriu a verdade da vida. O mundo pequeno e controlável virou uma imensidão de puro caos. É o momento em que mesmo o corpo crescendo mais e mais, ficamos cada vez menores diante do mundo. Tudo mudou numa fração de segundo". Mas chega de palavras, as fotos dizem muito mais:





Mais fotos no Picasa do Gandaiá

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Lambreta e Mereceu sobre palhaço e a rua


Lambreta (Gerson Bernardes) e Mereceu (Alexandre Simioni) são dois palhaços do Paraná que já estiverem pelas bandas Indaiatubanas. Em uma reportagem do Jornal de Londrina no ano passado eles, falaram um pouco sobre a arte do palhaço e sobre teatro de rua. Antes de colocar os trechos mais interessante da reportagem, tenho (o que vos fala, Marcus V. Mazieri) que falar um pouco com o coração. Tive o prazer e honra de ter aula com o grande Ale Simioni em duas ocasiões, em duas oficinas que ele veio ministrar aqui em Indaiatuba nos anos de 2009 e 2010. De quebra ainda pude vê-los em ação aqui na praça da cidade. Foi uma experiência incrível que me marcou  e me influenciou muito na construção do meu palhaço. Mas chega de lenga lenga, vamos logo a reportagem:

“Não fui eu quem escolhi ser palhaço. Foi o palhaço quem me escolheu”, declara Alexandre Simioni, que começou a pensar no assunto no início da década de 1990. Na ocasião, ele participou de uma oficina promovida pelo Plantão Sorriso com o palhaço Gabriel Guimard. “A partir daí me apaixonei pela linguagem, fiz mais oficinas e estudei sobre o palhaço”, diz. Algum tempo depois, Simioni coordenou, durante uns oito anos, do Doutor Palhaço, projeto do Sesc que desenvolve trabalho voluntário em comunidades carentes e hospitais.


Depois que o projeto terminou, Simioni resolveu encarnar o palhaço Mereceu e montar dupla com o amigo Gerson Bernardes, o Lambreta, que também atuou no Doutor Palhaço. Das comunidades e hospitais, os dois foram às ruas. “É um espaço democrático, pois há relação com todo o tipo de público. Tem que fisgar e manter o público”, diz Simioni. Para Bernardes, a rua dá a certeza ao ator de quem realmente está interessado no espetáculo. “Na rua a gente pode ver quem realmente escolhe nos ver”, diz Bernardes.


A história de Bernardes com a linguagem do palhaço começou cedo, por volta dos 14 anos. “Eu já era ator e comecei a trabalhar em animação de festas”, lembra. O que lhe chama a atenção nesse tipo de trabalho é a crítica que se pode fazer. “É uma arte questionadora, acima de tudo. Questiona hierarquia, ordens, pontos de vista”, ressalta. Até agora, o único espetáculo dos dois, que montaram a dupla em 2009, é o que será apresentado amanhã. Qual a graça de Laurinda? ganhou, no ano passado, o prêmio Carequinha, da Funarte, e circulou em dez cidades do Paraná.


Houve um dia em que Lambreta e Mereceu estavam se apresentando pelas ruas de Paranavaí, no noroeste do Paraná, quando precisaram improvisar. “Tinha uma mulher que, tudo o que a gente fazia, ela gritava e falava alto. Estava bêbada e queria chamar a atenção”, lembra Simioni. “Fomos até lá, abraçamos a mulher, incluímos ela no espetáculo. E ela ficou mais tranquila”, completa. Fazer espetáculo em rua é assim, tem que lidar com improvisos. “A gente tem que estar pronto para qualquer coisa”, diz.


Às vezes aparece um cachorro para assistir, e é preciso interagir com o animal. “O legal de ser palhaço é que, mesmo com roteiro, a gente lida muito com o improviso”, observa. Ou então, frequentemente os palhaços precisam enfrentar a chuva. “Já tivemos problemas com a chuva. Já aconteceu da gente ter que esperar. Então a chuva acalma e a gente monta tudo e, quando vai começar, volta a chover.”


Você pode ver a reportagem completa aqui. Acesse o blog do Triolé Cultural pra saber mais sobre eles. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

2º encontro da Vivência


Páscoa (em espanhol 'Pascua', em italiano 'Pasqua', em francês 'Pâques'...) é passagem, renovação, renascimento. E, pelo menos nesse domingo, foi também dia do 2º encontro da Vivência Gandaiá. Afinal, descansar e almoçar em família é pros fracos, né? Mas, como prova de nossa força dionísica, estávamos todos lá no domingo de manhã.

Foi uma manhã quente, engraçada e um pouco barulhenta. A ânsia de renovação latejava nos corpos de cada quase-palhaço. O sol iluminava a proatividade de todos que entoavam dispostos e motivadas diante das mais desgastantes ações: SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM! Um sim completo, de corpo e alma, de coração e pulmão. Um sim que abriu em cada ser janelas, portas, telhados... infinitas possibilidades. O sim da permissão (perdição?), da aceitação, da disposição pro jogo, da entrada no estado de palhaço. Um sim libertador. Quem se entregou ao sim se esvaziou e pode ser enchido, gota a gota, com tudo o que fizemos, mesmo que V-A-G-A-R-O-S-A-M-E-N-T-E.

Assim, com conta-gotas, fomos passando por andares tolos (viva Monty Phyton!), desfile de aberrações fisioterapêuticas, remechidas misticas desengonçadas e pseudo-individualizadas, mergulho num mundo pegajoso e vagaroso, meia-maratona inter-municipal de Frutal e, por fim que é sempre um começo, fotografias humanas da vovó alzheimer. Tudo com muito amor, foco, concentração e criatividade. Esse relato é um agradecimento a presença (nos vários sentidos) de todos naquela manhã (período do dia em que tantos fazem manha) de domingo de Páscoa. Que os nossos narizes possam ficar a cada dia mais vermelhos.

Ps: a Fritoleta Azeda esteve novamente presente, que honra!

Fritoleta ao melhor estilo "véi... na boa!"
Mais foto no picasa do Gandaiá.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

As heranças do palhaço

Keying up - The court jester,
William Merritt Chase
 (1849-1916)   
Entender e estudar (e vice-versa) a história do palhaço é essencial para qualquer aspirante a palhaço contemporâneo. Porém isto exige uma árdua pesquisa e, já que não temos grandes bibliotecas por aqui, apelemos ao mundo digital: dá-lhe Google! Para facilitar a vida de outros buscadores, compartilho aqui um trecho interessante de um artigo da Juliana Leal Dorneles intitulado "O palhaço na morada do fora de lugar", presente na 3ª edição da revista Alegrar, aonde se fala um pouco das heranças ancestrais que o palhaço de hoje carrega, que formam as características básicas (mas não obrigatórias ou limitadoras) do palhaço moderno. O que está em colchete são observações de rodapé do arquivo original. Segue o trecho:

"O palhaço hoje [Cito aqui suas características mais comuns, porém ressalto que um clown não tem receita, pois se faz na exposição do ridículo pessoal de cada um, sendo, assim, único. Um clown também só se faz na relação com a platéia e pode comportar inúmeras variações. O clown mais popular de hoje é aquele proveniente da tradição circense: O Augusto, figura de nariz vermelho e roupas extravagantes, que carrega certa ambiguidade em suas ações. Este clown é puramente humano, sensível, fraco, mas também capaz de enfrentar o mundo com sua lógica e comicidade próprias] carrega heranças ancestrais que nos chegam trabalhadas pela passagem do tempo. Dentre elas, temos: a quebra com a quarta parede (e a conseqüente vivência da relação com a platéia no aqui e agora); a permissividade; a ingenuidade; o show de habilidades; a improvisação aguçada; a exposição do ridículo; a brincadeira com as normas. As heranças do palhaço de ontem nos levam hoje para a busca do ridículo de si mesmo. É um estado [Fala-se em estado porque o clown latente em cada um aparece mais facilmente quando se proporcionam situações - como brincadeiras, improvisações - onde o oficinando fica à vontade para deixar tanto o seu grotesco e ridículo quanto sua fragilidade fluírem em cena] de jogo, de permissividade, de improvisação, que hoje em dia tem sido muito utilizado como ferramenta do treinamento de ator.
'O clown tem sido perpetuamente redescoberto pela sociedade porque - como bobo da corte ou aplicador de truques - ele encontra necessidades humanas que o impulsionam. Historicamente, a figura do clown abarca muito mais do que o óbvio figurino engraçado e o rosto pintado; ele representa uma visão do mundo que foi muito valorizada tanto pela cultura intelectual quanto pela assim chamada cultura primitiva, um sentido de comédia igualmente significativa para crianças e adultos, e uma forma dinâmica de atuar baseada em técnicas aguçadas e improvisações inspiradas.' (TOWSEN, John H.)
Cômicos, loucos, bobos, bufões, deformados, etc., precursores do palhaço moderno, não o eram apenas quando estavam em cena, mas levavam seu espírito jocoso para a vida nas ruas, o sentido de ser e não representar, análogo ao estado desfrutado quando se veste o que Luis Otávio Burnier diz ser a menor máscara do mundo (o nariz vermelho)."

Pode-se ver o artigo inteiro aqui. Juliana Leal Dorneles é doutora em psicologia clínica pela PUC-SP.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

1º encontro da Vivência


Neste domingo, primeiro de abril (sim, é o dia de mentira, sem piadinhas em relação a isso por favor), tivemos o primeiro encontro da vivência Gandaiá 2012. Em outro post eu já expliquei, com dicionário e tudo, o que é a vivência, então vou pular essa parte, vou logo falar como foi esse primeiro dia. A intenção era receber todo mundo, conhecer as pessoas novas, fazer um aconchegamento (sim, essa palavra existe) e fazer alguns exercícios para 'quebrar o gelo'. Conseguimos! Mas fomos além: pudemos falar sobre a história do palhaço e do clown, sobre as diferentes teorias que cercam esses símbolos cheios de significado, sobre as possíveis diferenças entre clowns e palhaços, brancos e augustos, e essas coisas todas presentes nos meios palhacisticos. Pudemos também fechar os olhos e nos observar um pouco, sentir (ou não) cada partezinha do corpo, nos ater aos detalhes que passam despercebidos na correria (pro lado errado, tenho certeza) do dia-a-dia e perceber que nossa, uau, temos um corpo tão cheio de vida!

Não posso deixar de falar, é claro, da nova mascote do Gandaiá que estava presente: a Fritoleta! E como ela participou hein, não ficou só olhando não, agiu. Andou pelo espaço com a gente, pegou os objetos do joão sem casa e roubou até um nariz! Será que em breve teremos uma cadela palhaça? Enfim, só tenho a agradecer a presença de todos e a companhia numa manhã tão agradável de domingo. Muitas coisas bacanas vão acontecer nessa Vivência se continuarmos num clima tão bom assim. Foi muito bom ver todos muito empolgados, animados, enfrentando um sol escaldante (o que será que isso significa?) sem perder a força e a vontade de ser menos, de ser menor, de ser palhaço.

Essa á Fritoleta, malandra.