quinta-feira, 5 de abril de 2012

As heranças do palhaço

Keying up - The court jester,
William Merritt Chase
 (1849-1916)   
Entender e estudar (e vice-versa) a história do palhaço é essencial para qualquer aspirante a palhaço contemporâneo. Porém isto exige uma árdua pesquisa e, já que não temos grandes bibliotecas por aqui, apelemos ao mundo digital: dá-lhe Google! Para facilitar a vida de outros buscadores, compartilho aqui um trecho interessante de um artigo da Juliana Leal Dorneles intitulado "O palhaço na morada do fora de lugar", presente na 3ª edição da revista Alegrar, aonde se fala um pouco das heranças ancestrais que o palhaço de hoje carrega, que formam as características básicas (mas não obrigatórias ou limitadoras) do palhaço moderno. O que está em colchete são observações de rodapé do arquivo original. Segue o trecho:

"O palhaço hoje [Cito aqui suas características mais comuns, porém ressalto que um clown não tem receita, pois se faz na exposição do ridículo pessoal de cada um, sendo, assim, único. Um clown também só se faz na relação com a platéia e pode comportar inúmeras variações. O clown mais popular de hoje é aquele proveniente da tradição circense: O Augusto, figura de nariz vermelho e roupas extravagantes, que carrega certa ambiguidade em suas ações. Este clown é puramente humano, sensível, fraco, mas também capaz de enfrentar o mundo com sua lógica e comicidade próprias] carrega heranças ancestrais que nos chegam trabalhadas pela passagem do tempo. Dentre elas, temos: a quebra com a quarta parede (e a conseqüente vivência da relação com a platéia no aqui e agora); a permissividade; a ingenuidade; o show de habilidades; a improvisação aguçada; a exposição do ridículo; a brincadeira com as normas. As heranças do palhaço de ontem nos levam hoje para a busca do ridículo de si mesmo. É um estado [Fala-se em estado porque o clown latente em cada um aparece mais facilmente quando se proporcionam situações - como brincadeiras, improvisações - onde o oficinando fica à vontade para deixar tanto o seu grotesco e ridículo quanto sua fragilidade fluírem em cena] de jogo, de permissividade, de improvisação, que hoje em dia tem sido muito utilizado como ferramenta do treinamento de ator.
'O clown tem sido perpetuamente redescoberto pela sociedade porque - como bobo da corte ou aplicador de truques - ele encontra necessidades humanas que o impulsionam. Historicamente, a figura do clown abarca muito mais do que o óbvio figurino engraçado e o rosto pintado; ele representa uma visão do mundo que foi muito valorizada tanto pela cultura intelectual quanto pela assim chamada cultura primitiva, um sentido de comédia igualmente significativa para crianças e adultos, e uma forma dinâmica de atuar baseada em técnicas aguçadas e improvisações inspiradas.' (TOWSEN, John H.)
Cômicos, loucos, bobos, bufões, deformados, etc., precursores do palhaço moderno, não o eram apenas quando estavam em cena, mas levavam seu espírito jocoso para a vida nas ruas, o sentido de ser e não representar, análogo ao estado desfrutado quando se veste o que Luis Otávio Burnier diz ser a menor máscara do mundo (o nariz vermelho)."

Pode-se ver o artigo inteiro aqui. Juliana Leal Dorneles é doutora em psicologia clínica pela PUC-SP.

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