quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Por que Gandaiar?

Um dia, um filósofo afirmou penso, logo existo" ou algo assim. Muitas pessoas vivem sem pensar que existem, ou pensando em como existem, ou pensando que vivem, quando só existem. Muitas se indagam coisas. Existo, logo penso em como e por que existo. Esse, meus amigos, é o dilema do Gandaiá.

Explico melhor, com outra ajuda filosófica: dizem que as pessoas não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que as levam a fazer aquilo que fazem.  Há anos nas ruas, asilos, hospitais, escolas, creches, boates e canis, o grupo fez mais coisas do que tem a cara de pau de assumir capacidade de recordar. Com tanta coisa diferente feita, e tanta gente diferente passando uma pela vida da outra, fica difícil de entender o que leva cada um a fazer o que faz no grupo.

Daí que, para decidir o que fazer para os próximos cinco anos, primeiro foi necessário meditar sobre as razões de se fazer o que quer que seja feito. Em suma: por que haver o grupo? O que faz do grupo algo importante para os membros?

Uma coisa fundamental no grupo é o afeto. Mas qual seria a razão de acordar domingo de manhã para realizar exercícios? Por que pintar o rosto e se vestir e ensaiar? Por que não fazer qualquer outra coisa? Por que palhaçar?

Porque não é apenas a amizade das pessoas do grupo.

Gandaiar é celebrar. É fazer farra. Não é apenas mostrar alegria, mas compartilhá-la. Fazer do encontro com o outro riso, e do riso um encontro com o outro. E o que faz com que tudo isso exista e floresça é a arte. Não apenas a arte palhaça, mas o espaço que essa arte no grupo abre para todas as outras formas de arte.

No encontro dos membros, cada um se multiplica, se empodera. Cada pessoa torna-se melhor para si e deseja tornar-se melhor para o mundo. Porque a experiência artística transforma as nossas vidas, é importante dar cada vez mais vida a essa experiência. Se isso nos faz bem, é importante multiplicar.

A experiência artística é aquela sede de dia corrido, da qual só damos conta ao beber um pouco d'água. A maioria das pessoas passa tanto tempo ocupada em sobreviver à rotina massacrante e tediosa que não sacia essa sede. Engana-se, no entanto, quem pensa que esse desejo não existe. Essa sede é sentida, e busca-se em vão preenchê-la com outras coisas, enquanto segue-se com a vida seca.

Não se deseja o que não se conhece, disse um romano. Por isso, expressar a arte é um posicionamento político. Além de ser um meio em si de mostrar ao coletivo nossa opinião, nossos sonhos, exercendo nossa criatividade, a própria arte desperta a sensibilidade individual. Faz lembrar à pessoa que ela também possui opinião e sonhos, e ideias criativas que tem ânsia de experimentar. Dá sede. A experiência artística libertadora só pode ocorrer num encontro em que artistas e público se misturem, bebam uns com os outros uns dos outros. Se descubram coletivos em suas individualidades e sintam que estão ali porque decidiram estar, independentemente do que os levou até ali. E essa é, no fundo, a escolha que desejamos ter o tempo todo: fazer algo porque queremos. Porque nos faz bem.

Experimentar a arte é, dessa forma, um meio de dirigir e protagonizar a própria vida. E celebrar isso com outras pessoas é uma forma de afirmar: só se pode viver plenamente quando esse bem-estar é coletivo. Quando todos são protagonistas.

É esse desejo que guia tanto do ímpeto do grupo. E, assim, sondamos e encontramos nosso propósito: sentir, refletir, celebrar e multiplicar a experiência libertadora da arte como coletivo atuante na comunidade! 

Por Elton Rigotto Genari


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