sábado, 23 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Palavras do Comendador (Nando Bolognesi)
Em meu trabalho como um Doutor da Alegria, passei por algumas situações dessas.
O Dr. Comendador – esse é o nome de meu palhaço - e a Dra. Bifi (nos Doutores da Alegria os palhaços se apresentam como médicos besteirologistas, por isso o título de Dr) entraram num quarto onde estavam quatro crianças de mais ou menos sete ou oito anos. O quadro era bem ameno. Pelo menos à primeira vista era; nenhuma deformidade, nada de tubos pelo nariz nem criança careca, tampouco mãe chorando ou avó dormindo. Ótimo!
Nem me lembro como começamos a interação. Nosso trabalho é todo improvisado. Só sei que a coisa toda estava bem solta, divertida, com as crianças participando ativamente, dando ordens aos palhaços, tomando partido ora de um ora de outro. A certa altura a Dra. Bifi até jogou malabares dentro do quarto.
Aquele quarto estava sereno como um céu de brigadeiro.
Aí então o Dr. Comendador fez uma mágica e a Dra. Bifi desapareceu.
- A Dra. Bifi sumiu! Gente do céu... Ela desapareceu! E agora? Ela me abandonou, sumiu do mapa! Deixou-me sozinho! E agora como faço sem ela aqui comigo?
Comecei a procurar minha parceira embaixo da cama, atrás da porta, debaixo dos lençois das crianças e nada da palhaça aparecer. Sentei-me cenicamente desolado. Cotovelos apoiados nos joelhos e queixo repousado na palma das mãos. De lá onde estava, meu olhar cruzou o de uma das quatro meninas do quarto. Estabeleceu-se uma conexão especial. Tudo o mais deixou de existir, éramos nós dois e nada mais. Isso durou um fiapo de tempo, o suficiente para a garota sentir-se à vontade para contar-me um pouco sobre sua história:
- Minha mãe morreu.
Foi seca, sem melancolia ou qualquer pesar aparente, só uma constatação: “Minha mãe morreu”. As quatro meninas permaneceram mudas olhando para mim. Parecia que esperavam para ver qual solução o palhaço daria para aquela questão. Afinal, palhaços são tão criativos.
Compreendi o paralelo que a garota estabeleceu entre a morte da mãe e o sumiço da palhaça. Ôpa! Bola fora. A garota parecia tão bem antes da nossa chegada. Perdi o rebolado. Fiquei desconcertado. E as meninas esperando qualquer atitude minha. E eu sem atitude nenhuma.
O desaparecimento da Dra. Bifi era uma mágica, na verdade uma farsa. Por sua vez, a morte da mãe tinha a crueza da vida. O Comendador poderia, como um Deus, encerrar o sumiço da parceira a qualquer momento, já no caso da morte da mãe...
Fiquei com cara de palerma. O que fazer numa situação destas? Algumas alternativas me ocorreram: Fazer-me de besta e fingir que não escutei o que ela revelou? Chorar abraçado junto com a criança? Inventar uma estória sensacional e poética sobre os desaparecimentos da mãe e da Dra. Bifi e acabar a cena com uma mensagem de otimismo? Trazer a Dra. Bifi de volta, mas confessar-me incapaz de fazer o mesmo com sua mãe? Ou perguntar quem mais havia perdido a mãe e fundar um clube dos órfãos alegres? Por um segundo, que para mim pareceu ter durado um ano, permaneci besta. Sem ação.
O palhaço Comendador estava numa autêntica sinuca de bico! Diante do fato consumado melei o jogo:
- Tudo bem, tá bom. Mas a Dra. Bifi sumiu! Vocês não me entendem? Ela sumiu! Eu preciso procurar por ela. Não deve estar longe. Se vocês a virem por aí, me chamem. Vou atrás dela! Até logo.
Disse isso, e saí correndo do quarto. Foi o melhor que consegui.
A Dra. Bifi deixou o banheiro onde se escondera a fim de forjar o seu desaparecimento mágico e seguiu meus passos:
- Não contem que eu estou aqui. Vou correr atrás dele e pregar-lhe uma peça. Aquele palhaço é mesmo muito burro! Ele nem percebeu que eu não tinha sumido coisa nenhuma. Na verdade estava escondida nesse banheiro. Ei, Comendador, onde você vai seu palerma? Volte aqui!
As crianças do quarto da menina órfã gostaram da saída dos palhaços. Sabíamos disso por experiência. Depois de algum tempo aprendemos a usar alguns trunfos que nos salvam de situações como aquela. Gags clássicas não costumam falhar. Tropeções, encontrões com as portas, rivalidade entre os palhaços são procedimentos certeiros. Verdadeiros botes salva-vidas. No caso: bote salva-palhaços.
Encontramos-nos no corredor, logo ali adiante. Não dissemos nada um ao outro. Não precisava. Afinal já estava tudo dito. Demos uma respirada e retomamos o trabalho. Outro quarto, outras crianças, novas situações, mais encontros, outros possíveis embaraços.
Nosso único consolo era saber que ninguém pode escapar de uma sinuca de bico. Quem joga bilhar sabe disso.
(crônica "Dr. da Alegria numa sinuca de bico", de Nando Bolognesi, disponível no site itu.com.br)
domingo, 10 de julho de 2011
A feira e o clown
Tchacabum e Mariáh, por Kim Christie |
Como os clowns são tão bonitos e coloridos nem precisaram exatamente gastar todo o orçamento da semana. Ganharam muitas coisas, como batatas, beterrabas, fios de cabelos brancos de senhoras de meia idade, maçãs mastigadas por crianças, adesivos, pimenta, tanta coisa... Alguns clowns (os mais bonitos) chegaram a ganhar CDs e chupabibas. (um caramelo muito gostoso). Até nossa amiga Mariáh ganhou uma bebida duvidosa e provavelmente potente com o nome de: "Levanta o véio". Mas o mais legal foi ganhar sorrisos, esses eram de todos os tamanhos, gostos e cores.
Em resumo, é impossível resumir o número de coisas que clowns feirantes conseguem numa manhã dominical. Mas já é hora de fechar a barraca, passa do meio dia e precisamos voltar pra casa fazer a comida. Pra hoje: sopa de legumes com sorrisos a gosto. Que gostoso.
Gandaiá por Gregory Rocha |
Postado por Jack Banana, que comprou uma laranja, um gengibre, uma castanha/pinhão, uma flor, um adesivo da minnie e um pimentão.
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