sexta-feira, 11 de maio de 2012

O palhaço tem tesão!


Sem tesão não há solução. Essa frase é também o título de um maravilhoso livro do Roberto Freire. Fica óbvio, já pelo título, que ele defende o tesão. O coloca como fator essencial para revoluções (ou apenas mudanças) sociais. É mesmo um livro muito interessante que coloca um fator geralmente considerado tabu em questões geralmente consideradas sérias. Sérias demais até. Uma seriedade que não cabe com a existência alegre do ser humano e muito menos com a do palhaço. Vejamos o que diz Freire em um trecho:

"Estamos, assim, concluindo pela existência também de um tesão antropológico e ecológico que mantém a ludicidade impregnada na natureza e na essência do homem. Este tesão o faz ligar-se, forte e apaixonadamente, sem necessitar nenhuma explicação consciente, a tudo o que lhe proporciona beleza, alegria e prazer. Por isso, os homens livres jogam e brincam com a vida. Por essa razão é que podem não ser “sérios”, não ser “responsáveis” e não ser “coerentes”. É isso também que os leva a não ser, espontaneamente, nem mórbidos e nem pessimistas face às naturais ocorrências trágicas, próprias da fragilidade dos seres vivos.”

O tesão aqui é colocado como o que nos liga ao belo, ao alegre e ao prazeroso. Alguém aí procura o oposto disso? As pessoas sem tesão sim! A repressão talvez nos leve a procura inconsciente do feio, do triste e doloroso. Há quem indiretamente pregue esta tríade como um caminho para Deus, como se a repressão pudesse nos levar além. A liberdade é essencial para a transcendência. É claro que essa busca da beleza, da alegria e do prazer deve ser consciente. Não confundir com a busca inconsciente imposta por uma mídia controladora, que impõe padrões irreais e anti-humanos de beleza, alegria e prazer. É uma busca do fundo do ser, sincera e real, que nada tem a ver com a massificação dos desejos consumistas. 

Se os homens livres jogam com a vida, são brincalhões, irresponsáveis e incoerentes, percebo então que os homens livres são palhaços! E os palhaços, obviamente, são livres! Quando vejo palhaços carregados de ideologia, engajados em lutas sociais  e ligados a causas religiosas acho bonito e importante. Mas é preciso ter o cuidado de não se ultrapassar a linha da liberdade, de não se encarcerar em tais ideologias e causas, em opiniões fortes, em fundamentalismos de todos os tipos. O palhaço não pode perder sua liberdade por imposições de valores morais e políticos. O tesão não pode ser esquecido, alias, o tesão tem que nortear o palhaço!

É função do palhaço o rir de si, o rir da vida. Enxergar a comicidade nas tragédias da vida humana. Ser otimista nas piores situações e rir (ou fazer rir) aonde todos só vêem motivos pra chorar. Por isso o palhaço deve fugir de tudo que seja antitesão, “porque essas coisas existem apenas para combater e impedir o viver natural lúdico, e, sobretudo, o relativismo existencial que chamamos de liberdade”. O tesão nos leva a liberdade, e vive-versa. Um palhaço sem tesão é uma palhaço sem liberdade, e um palhaço sem liberdade simplesmente não é. Por isso confirmo: o palhaço tem tesão, e muito! Então vamos todos soltar a pélvis! 

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